sexta-feira, 16 de abril de 2010
OS IDEAIS DE LIBERDADE DE JOSÉ BONIFÁCIO
Desde que retornara da Europa o ilustre santista José Bonifácio se chocara e
escandalizara com a sociedade de senhores e escravos que encontrara em sua terra: "inumana,
injusta, imoral, corrompida e corruptora", que se degradava e degradava o Brasil. Convencido
da necessidade urgente de acabar com a chaga social da escravatura, no início de 1820 ele
liberta os escravos da Chácara do Outeirinhos, de sua propriedade, onde pretende provar que se
pode trabalhar a terra e lucrar sem escravos e senzalas. Nos dois anos seguintes toda a sua
energia se voltou para a luta pela Independência, mas quando esta se concretizou, ele voltou
para seus ideais abolicionistas. Logo após a Independência, em fins de 1822, ele escreve a
Caldeira Brant, em Londres, solicitando-lhe a convocação de trabalhadores rurais ingleses que
quisessem se estabelecer no Brasil. José Bonifácio pretendia com isso criar um exemplo prático
que convencesse seus compatriotas de que o trabalho livre era muito mais produtivo e lucrativo
que o escravo. Em janeiro de 1823 embarcam os primeiros 50 trabalhadores ingleses rumo ao
Brasil.
A suas atitudes como cidadão Bonifácio soma um ato político: entrega à Assembléia
Constituinte da qual fazia parte, para consideração, a sua famosa "Representação sobre a
Escravatura", a primeira manifestação pública a favor da abolição. O documento, de raciocínio
lúcido e palavras sábias, revela toda a miséria social produzida pela escravidão até então e todo
o atraso que ainda poderia produzir ao novo país que se formava, sugerindo os meios para
extinguí-la sem causar qualquer choque na economia. Infelizmente, a Representação de
Bonifácio bate de frente com a barreira do sistema político e dos interesses em jogo e, com
exceção dos Deputados paulistas, todos o repudiam violentamente. Pouco depois se dá a
dissolução da Assembléia Constituinte e a deportação dos irmãos Andradas a mando do
Imperador. A Representação sobre a Escravatura, apesar de ser um verdadeiro monumento de
civilização, contribuiu de forma decisiva para a decadência política de José Bonifácio.
A Representação de Bonifácio, apesar de não encontrar eco no meio político, foi uma
boa semente no campo fértil de sua terra natal. O santista José Feliciano Fernandes Pinheiro dá
liberdade a 300 escravos do Núcleo Colonial de S. Leopoldo, no Rio Grande do Sul, pertencente
ao governo. No interior de São Paulo, Nicolau Vergueiro, português naturalizado, é o primeiro a
importar trabalhadores livres para a agricultura no Brasil, criando uma sociedade de imigração e
colonização. Em 1827 chegam os primeiros colonos alemães e, em 1829, se forma a Colônia
Santo Amaro, perto da capital. Era o abolicionismo pacífico pregado por Bonifácio e que
acabaria por tornar São Paulo a primeira e mais rica Província do Brasil.
A importação do trabalhador livre se desenvolve de forma acelerada, espalhando
colônias na capital e em inúmeras regiões do interior de São Paulo, totalizando a entrada no país
de 60.000 colonos europeus. Era sangue novo na terra, gente resoluta, que iniciava povoações e
que ajudavam a criar a grandeza do Estado de São Paulo.
Em 7 de novembro de 1831 é promulgada a Lei que suspende o tráfico de escravos no
Brasil, uma lei que tentava salvar as aparências e que foi ridicularizada por todos, pois não
refletia a vontade nacional. Nos 15 anos que se seguiram, entraram no Brasil 300 mil escravos
contrabandeados.
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